Artesanato indígena dá colorido especial à Expointer
Etnias Kaingang e Mbyá Guarani participam da 40ª edição da feira agropecuária
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"Ha'e vete orerexakuaa", em Mbyá Guarani, significa reconhecimento, obrigado pela contribuição. É assim que as comunidades indígenas agradecem a quem adquire seus produtos e contribui com o desenvolvimento sustentável de seu povo. É possível ter contato com a cultura indígena durante a 40ª Expointer, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, até o próximo domingo (3).
No espaço, integrantes dessa e da etnia Kaingang expõem seus artesanatos, que chamam a atenção pelo colorido das peças. São apitos, colares, balaios, brincos, esculturas de madeira, chocalhos, pulseiras e outros apetrechos. Eles podem ser encontrados no Pavilhão da 19ª Feira da Agricultura Familiar (número 22 no mapa de localização da feira) e atrás do Restaurante Casa do Gaúcho, onde os indígenas estão acampados.
O membro da comunidade de Maquiné, Merong Tapurumã, da etnia Pataxó Hãhãhãe Kamakã, da Bahia, casado com uma Mbyá Guarani, conta que participam da mostra 18 expositores, cerca de 40 pessoas, dos municípios de Maquiné, Nonoai, Porto Alegre, Iraí, Barra do Guarita, Santa Maria, Viamão e Chapecó (SC). "Essa feira é muito importante para nós, para garantir a sustentabilidade das nossas famílias e para divulgar nossa cultura. É uma oportunidade para que as pessoas conheçam os primeiros habitantes do Brasil", enfatiza.

Segundo Merong, os indígenas esperam pela Expointer o ano todo. "Vendemos muito bem aqui, o dobro do que ganhamos no dia a dia", argumenta. Ele explica que normalmente acordam às 5h e já começam a produzir as peças de artesanato. "E vamos até as 18h. Além da Expointer, vendemos nas ruas e em outras feiras e exposições".
Pâmela Indianara Salvador, de 10 anos, que mora em Iraí, é uma das artesãs. Ela produz filtro de sonhos, pulseiras, colares, arcos e flechas e palitos de cabelo. Aparentemente tímida, quando questionada se gosta do que faz, abre um largo sorriso e diz que sim. "Acho muito importante ajudar a divulgar nossa cultura. Sinto muito orgulho do meu povo", demonstra.
Origem da arte ancestral
Mba'eapo Tenonde é a arte originária do povo Mbyá Guarani, feito por artesãos que guardam séculos de conhecimentos. Esse nome é muito importante, pois é o começo de tudo. Foi quando Nhanderu (Deus) já havia previsto que as matas acabariam e que o povo Guarani precisaria sobreviver da venda dos cestos.
Políticas públicas do Estado
A Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) desenvolve ações para os povos indígenas por meio do Departamento do Desenvolvimento Agrário, Pesca, Aquicultura, Indígenas e Quilombolas. Conforme o integrante da Divisão Indígena da SDR, James Roth, a população indígena no RS que se beneficia das políticas públicas é de cerca de 25 mil pessoas, das etnias Kaingang, Guarani e Charrua. "Eles vivem em 130 aldeias, de 63 municípios e 19 Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes)", informa.
Roth esclarece que o Programa de Fortalecimento Etnossustentável e Desenvolvimento Socioeconômico de Comunidades Indígenas vem sendo desenvolvido todos os anos através de Projetos de Segurança Alimentar e Geração de Renda, com a Assistência Técnica da Emater/RS-Ascar. Segundo ele, atualmente, está em fase de publicação o termo de colaboração entre a entidade e a SDR para distribuição de sementes e ferramentas para as aldeias. "Elas serão entregues em todas as escolas indígenas do Estado", comemora. O mesmo termo prevê ainda a entrega de cestas básicas para as aldeias em fase de estruturação em áreas públicas do Rio Grande do Sul e o fomento a Planos Socioassistenciais Indígenas da Emater/RS-Ascar, com a aquisição de kits de artesanato.
Além disso, existem outras atividades tais como trabalho de topografia e regularização documental fundiária em áreas indígenas situadas em terras do Estado; organização da Plenária do Conselho Estadual dos Povos Indígenas; perfuração e construção de poços tubulares para captação e distribuição de água em aldeias indígenas; participação no Programa Estadual de Agroindústria Familiar (SDR/DAF), com a comercialização de artesanato indígena nas feiras apoiadas pela SDR; participação na elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE/RS) - Indígena; e atuação contínua junto ao Conselho Estadual dos Povos Indígenas.
Texto: Darlene Silveira
Edição: Gonçalo Valduga/Secom